18 de agosto de 2011

Essas Ideias Malucas...


               Você, Caro Leitor, que ainda lê este blog tão negligenciado por mim, responda-me uma pergunta: O que é um pensamento?

(Pausa para reflexão)

               Que grande ironia! Neste momento você está pensando sobre o que é um pensamento, mas não o consegue descrever com exatidão. Relaxe, eu passei pelo mesmo constrangimento. Bem, deixarei que uma definição advinda da Psicologia Cognitiva responda a nossa pergunta:

“O pensamento é a capacidade de compreender, formar e organizar conceitos, representando-os na mente”

Eu odeio ser tão sucinto em assuntos tão complexos, mas isso aqui é um artigo e não uma tese de doutorado.  Vou deixar aqui o link com diversas fontes para aprofundamento (muito interessante!): http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_cognitiva . Enfim, pensar é uma atividade mental que segue alguma lógica e visa formar conceitos, resolver problemas, julga fatos e toma decisões. Então ao pensarmos, estamos cruzando dados e informações presentes e passados, a fim de chegarmos a uma conclusão sobre o que estamos pensando, e  essa conclusão se chama ideia ou conceito.

Bem, essa parte sobre o pensamento vai ficar superficial mesmo,  pois já fundamentei o meu argumento de que ideias são resultados de pensamentos (como se isso fosse alguma novidade...). Aliás, caro leitor, devo lhe advertir: NÃO EXISTE NADA MAIS PERIGOSO QUE UMA IDEIA (que não se tornou menos perigosa por perder o acento no tratado ortográfico).  Uma ideia é o mais contagioso vírus e se propaga nas diversas formas da linguagem, seja num caloroso discurso, ou num frívolo e-mail.

               E essas epidemias de ideias foram responsáveis por talhar o mundo de hoje, responsáveis por culminar em datas comemorativas e também pelas maiores atrocidades que os olhos humanos presenciaram. Quer exemplos?

               Os romanos tinham a ideia de que deviam levar seu desenvolvimento (cultural, tecnológico e político) pelas terras bárbaras (algo parecido com a política externa dos EUA). E assim teve-se o maior Império do mundo, que durou vários séculos e ainda hoje temos muito de sua influência.

               A Igreja Católica na Idade Média acreditava que tudo o que fugisse de seu modelo de conduta era obra do demônio e deveria ser severamente punido, quiçá torturado, queimado ou esquartejado.

               A França do século XVIII passava por uma grande crise, e alguns caras tiveram a ideia de que o velho modelo feudal de “Clero, Nobreza e Plebe” não estava correto. Resultado:  Um rei decapitado, uma fortaleza posta abaixo, a motivação para a independência de vários países na América, e um livrinho muito importante chamado Constituição, que o restante do mundo adotou. Resumidamente é só isso.

               No século XX, um austríaco estava fazendo da Alemanha uma superpotência. Ele tinha a ideia de que seu povo era superior aos demais, e ainda, de que os judeus deveriam sumariamente eliminados do planeta. Bom, você já sabe o que acontece depois...

               Um conjunto de ideias simpáticas (que se encaixam umas nas outras) se tornam em uma ideologia, e a ideologia dominante dita o viver de um determinado povo. Hoje, no Brasil, temos o capitalismo como economia, a democracia presidencialista como sistema de governo, temos três distintos poderes, temos o samba e o carnaval como representações culturais, onde tomar cerveja na praia é o auge da felicidade e etc... Essa é a nossa atual ideologia e diverge bastante pelas regiões do país.

               Nosso mundo foi desenhado por ideias, e pelos conflitos entre elas. Eu poderia citar tantas outras coisas, mas já me servi de bons exemplos. Essas ideias e ideologias, tanto as que hoje são aceitas como as que nos soam repugnantes, foram incorporadas e postas em prática por seus simpatizantes, que acreditavam piamente nelas como corretas ou verdadeiras. Talvez (com absoluta certeza), ideias de adotamos hoje se tornem ultrapassadas no futuro.

               Mas vai vendo só o perigo de uma ideia. Aborde alguém compromissado e diga: — Seu parceiro está te traindo. Essa simples e sorrateira ideia pode acabar em tragédia, aliás, em uma tragédia de Shakespeare. Ideias podem nos envenenar a alma de maneira que urânio nenhum faria, por isso, é imprescindível se precaver ao que lê e ouve e manter um senso crítico a tudo com o que se tem contato, filtrando as ideias que serão adotadas. Apagar uma ideia indesejada pode ser pior que extrair um dente.
        As ideias que habitam as nossas cabeças vivem como em um ecossistema, umas se alimentam das outras e algumas concorrem com outras. Algumas são parasitas, outras predadoras, enfim, incluir uma nova ideia ou remover uma já existente afeta todo o equilíbrio desse psicossistema. Uma ideia pode ser imediatamente aceita nesse sistema devido a afinidade com ele. Ou uma ideia pode nunca ser aceita, quando não existe nenhum pedaço da mente no qual ela possa se enraizar, pois seu terreno de instalação já foi todo dominado por uma outra ideia que não a tolere. Mas se achar uma brechinha, um mínimo espaço em que ela possa germinar, esta ideia tentará se desenvolver, entrando em conflito com as demais por espaço psíquico. E é aí que a coisa pega: Ideias digladiando para assumir a dominância, primeiro na mente de uma pessoa, e depois entre as pessoas, na sociedade, fazendo de nossas cabeças humanas, hospedeiras, para que possam se concretizar.

Bem, encerro este texto por aqui, mas é só uma ideia que eu tive...